Origem da Liturgia das Horas
A oração judaica
O costume de os cristãos rezarem regularmente a diversos momentos do dia tem origem no costume judaico. Os judeus, no tempo de Jesus Cristo, tinham uma oração pública e privada perfeitamente regulamentada quanto às horas, composta de salmos e de leituras do Antigo Testamento.
Jesus Cristo, enquanto judeu, terá certamente praticado este tipo de oração, e o mesmo terão feito os Apóstolos. Os cristãos continuaram com esse costume, praticamente nos mesmos moldes, dando-lhe, claro, um sentido cristão, pelo que às leituras do Antigo Testamento cedo se juntaram leituras dos Evangelhos e das Epístolas.
Oração de Cristo e oração da Igreja
Jesus Cristo, ao longo dos Evangelhos, aparece frequentemente em oração, que aparece como parte essencial do seu ministério terreno. Do mesmo modo, recomenda aos seus discípulos que façam o mesmo e que “orem sem cessar”. Por esse motivo, os primeiros cristãos levaram a sério esta recomendação, pelo que tinham a oração regular como elemento essencial da sua vida cristã. Assim, encontramos nos Actos dos Apóstolos frequentes referências à oração dos primeiros cristãos e a horas determinadas em que essa oração era praticada, sempre com a intenção de cumprir o mandamento de Cristo.
Desenvolvimento da oração comunitária
Com o progressivo distanciamento dos judeus, sobretudo desde a destruição de Jerusalém e a diáspora, os cristãos foram desenvolvendo um esquema próprio de oração. Ao longo dos séculos, toma forma a oração regular nas cidades, sob a presidência do bispo, centrada em dois pólos: a manhã e a tarde. Todos os cristãos eram convidados a tomar parte nesta oração pública e comunitária, ainda que sem obrigação.
A recitação privada das diversas horas primeiramente não existia, mas foi sendo recomendada àqueles que não podiam participar na celebração comunitária.
A oração das horas e a vida monástica
No quinto século da era cristã. Benedito estruturou o Ofício Divino em oito períodos, incluindo um no meio da noite especificamente para os monges. A Regra de S. Bento se tornou um dos documentos mais importantes na formação da cultura ocidental. [2]
Com o aparecimento do monaquismo, a oração regular passa a fazer parte integrante da vida consagrada. O facto de ser realizada por pessoas que dedicavam grande parte do seu dia à oração levou a que essa oração se desenvolvesse e aumentasse, incluindo várias horas durante o dia, além das tradicionais de manhã e à tarde. Mais elaborada e comprida, a oração monástica acabou por influenciar a oração das catedrais, que integrou horas tipicamente monásticas.
A privatização da oração da Igreja
No início, a oração da Igreja era presidida pelo bispo, rodeado pelos seus presbíteros e diáconos e pelo povo cristão. Ora, com o desaparecimento dos diáconos e o envio dos presbíteros para zonas mais distantes da diocese, onde se estabeleceram como enviados do bispo, tal celebração comunitária acabou por cair em desuso. Os presbíteros passaram então a rezar privadamente as diversas horas.
Além disso, a oração da Igreja foi-se tornando progressivamente desconhecida para o povo cristão, pelo facto de ser mantida em latim, língua que o povo do império romano foi progressivamente abandonando e deixando de entender.
Isto motivou que a oração das horas se tornasse na prática algo reservado aos clérigos, mentalidade que se enraizou na consciência dos cristãos e que se mantém até hoje, apesar de não ser o seu sentido original.
As diversas horas litúrgicas
As diversas horas de oração existentes atualmente foram-se formando e sofrendo alterações ao longo dos tempos. Além disso, não têm todas a mesma importância. Os dois principais momentos da Liturgia das Horas são as Laudes e as Vésperas. “As Laudes, oração da manhã, e as Vésperas, oração da noite, tidas como os dois pólos do Ofício quotidiano pela tradição venerável da Igreja universal, devem considerar-se as principais Horas e como tais celebrar-se” (Sacrosanctum Concilium 89). Segue-se em importância o Ofício das Leituras e, por fim, a Hora intermédia e as Completas.
Ao iniciar a primeira hora litúrgica do dia, seja ela Laudes ou Ofício de Leitura, é costume rezar o Invitatório, que serve de introdução à oração de todo esse dia.
Laudes
Trata-se da oração realizada de manhã, tendo como objetivo consagrar o dia a Deus. Recorda ainda a Ressurreição de Cristo, que está associada à manhã.
Vésperas
Celebram-se ao fim da tarde, aproximadamente à hora do pôr-do-sol. Tem por objetivo agradecer o dia que termina. Recorda ainda a morte de Cristo e a sua Última Ceia.
Ofício de Leitura
Outrora feito durante a madrugada, trata-se duma oração que pode ser feita a qualquer hora do dia, consistindo essencialmente numa leitura longa da Bíblia e dum texto patrístico, hagiográfico ou do Magistério eclesial.
Hora intermédia
É um nome recente dado ao conjunto de três horas chamadas “menores”, pelo fato de terem menos importância no contexto das horas litúrgicas. São elas:
Completas
São a última oração do dia, mais breve, rezada antes de deitar.
Outras horas:
Antigamente existiam ainda outras horas litúrgicas:
Matinas: Oração longa constituída por salmos e leituras bíblicas e patrísticas, para ser rezada durante a madrugada, foi adaptada após o Concílio Vaticano II, para ser celebrada a qualquer hora do dia, e recebeu nome de Ofício de Leitura.
Prima: uma das horas menores, como as da atual Hora intermédia, a ser celebrada pelas 7h00. Foi abolida pelo Concílio Vaticano II, por se sobrepor à hora de Laudes.
Note-se que estas horas foram suprimidas na atual Liturgia das Horas, mas continuam a manter-se no Ofício divino anterior à reforma litúrgica, de uso opcional.
Estrutura das Horas
Laudes (Oração da manhã)
· Invitatório : V. Abri, Senhor os meus lábios. R. E minha boca anunciará vosso louvor. V. Glória ao Pai... R. Como era...
· Salmo Invitatório (geralmente o 94, mas pode ser também o 23, o 66 ou o 99).
· Hino : um para cada dia, exceto em tempos fortes (quando o hino é próprio).
· Salmodia : dois Salmos intercalados por um Cântico do AT.
· Leitura Breve
· Responsório breve
· Cântico Evangélico : Benedictus
· Preces
· Pai Nosso
· Oração final
Horas Intermediárias (Nove, Doze, Quinze)
· Introdução : V. Vinde o Deus em meu auxílio. R. E minha boca proclamará vosso louvor. V. Glória... R. Como era..
· Hino (fixo para cada hora)
· Salmodia : Três Salmos ou 1 menor e outro maior dividido em duas partes
· Leitura breve
· Responsório breve
· Oração final
Vésperas (Oração da Tarde)
· Introdução : V. Vinde o Deus em meu auxílio. R. E minha boca proclamará vosso louvor. V. Glória... R. Como era..
· Hino : um para cada dia, exceto em tempos fortes (quando o hino é próprio).
· Salmodia : dois Salmos seguidos de um Cântico do NT.
· Leitura Breve
· Responsório breve
· Cântico Evangélico : Magnificat
· Preces
· Pai Nosso
· Oração final
Completas (antes do repouso da noite)
· Introdução : Vinde o Deus...
· Hino : fixo
· Salmodia : um Salmo ou dois
· Leitura breve
· Responsório breve (fixo)
· Cântico Evangélico : Nunc dimittis
· Oração final
· Antífona final à Nossa Senhora
Ofício das Leituras (sem hora marcada)
· Introdução : Vinde o Deus...
· Hino
· Salmodia : geralmente um Salmo dividido em três partes
· Leitura Bíblica
· Responsório breve
· Leitura Hagiográfica (de um santo) ou Patrística (de um dos primeiros escritores da Igreja)
· Responsório breve.
· Oração final
fonte: http://www.portalcarismatico.com.br/galeria/imagem1/03liturgia/liturgia_das_horas.htm